Um desabafo de uma mãe a tempo inteiro e... mulher

Sou uma mulher já na faixa dos trinta e qualquer coisa e abdiquei de trabalhar de forma a poder criar, educar e acima de tudo acompanhar o crescimento dos meus filhos. Desde muito pequena que o meu sonho era ser mãe, e dessa forma eu sei que me sinto plenamente realizada neste meu papel.

Tenho uma licenciatura da qual me orgulho imenso, pois contribuiu para mais uma realização pessoal e aumento de conhecimento na área que mais gosto: crianças e seu desenvolvimento (entre muito mais).
Não trabalho e sei cada vez mais que será difícil encontrar "espaço" nesta país para entrar numa empresa/estado já na casa dos trinta anos.

Adoro o que faço, cuidar dos meus pequenos e acima de tudo conseguir partilhar todos os momentos da vida deles: primeiros passos,primeiras palavras, primeiras traquinices, primeiras quedas, etc. Absorvo todos os instantes com o maior prazer e por vezes fico muito cansada pois ter de dar atenção a duas crianças pequenas ao mesmo tempo, todas sabem que não é fácil. E ao final do dia o cansaço fala mais alto, e adormeço num instante. 

Para mim os meus dias passam sempre por fazer muitas actividades com eles (quando não têm colégio) ou após o Colégio termos tempo de ir ao parque, brincarmos, pintarmos, cozinharmos, etc.

Até agora tenho tido o mais novo em casa, mas em Setembro vai para o Colégio, está na altura de começar os seus pequenos voos sozinhos. 

Todas nós sabemos que mesmo eles estando no Colégio todo o dia nós conseguimos estar sempre ocupadas, e a tratar de preparar as coisas para a chegada a casa pelas 16h dos pequenos diabinhos cheios de energia. Ocupadas não quer dizer "não fazer nada" e sim a tratar da casa, compras, roupa, e pelo menos tirar uns minutos para nós mesmas (admito que raramente o faço). Muitas pessoas dizem: "Não trabalhas? Ah então não fazes nada ... isso é que é vida!" Será que estas pessoas sabem do que falam? 
Irritava-me imenso quando me diziam "Vida de Dondoca" e olhavam para mim como uma mulher fútil que o marido sustenta pois ela não tem inteligência e capacidade para trabalhar e ser mãe ao mesmo tempo. Mas na verdade, não sabem que o fiz por opção consciente mesmo no primeiro ano, ter sofrido um pouco pois sentia falta da minha rotina, convívio e ordenado. Mas quando tomamos as nossas decisões temos de acarretar com as repercussões. 

Agora lido muito bem com a vida que tenho e acima de tudo sinto-me equilibrada e em paz com a decisão que tomei. Olho para os meus filhos e sinto-me FELIZ. 
Consigo fazer imensas actividades com eles, brincadeiras, passear e acima de tudo ter imenso tempo só para os mimar.

Se me perguntarem se eu acho que as pessoas entendem? NÃO entendem, não valorizam e por vezes ainda tentam humilhar ou magoar com algumas respostas ou conversas. Mas cheguei à conclusão que eu acima de tudo sei o meu caminho e estou segura da minha decisão. Optei por ficar em silêncio.

Se me sinto sozinha? Por vezes SIM, mas tenho a sorte de ter uma família enormes e algumas amigas na mesma situação (Mães a tempo inteiro) o que me permite fugir da solidão.

Como mulher, ainda me estou a conhecer pois nestes últimos 5 anos não aprendi a cuidar e tratar de mim (um erro enorme, sempre aconselhei o oposto às minhas amigas, eu mesma não cumpri). E nem consegui nunca parar para me dar o devido valor como mulher. 

Chegou a hora? Acredito que sim. Afinal, estamos sempre a aprender e a vida é só uma.

Se eu não cuidar e nem me valorizar, os outros não o vão fazer por mim.

Tudo tem de partir de nós.

Blue Eyes




 

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